Lições preciosas aos novatos

Aos recém-chegados ao mundo da academia e da pesquisa, ofereço algumas dicas e lições preciosas que conquistei em minha trajetória, colocando um pouco do pouco que sei à disposição dos mais novos.

Como já aparece na primeira linha, o primordial aqui é ofício da pesquisa e, por conseguinte, a elaboração de seu próprio método de pesquisa. O “caminho das pedras” na pesquisa varia conforme o tema e, caso não se trabalhe com o tempo presente, também conforme a temporalidade estudada. Além disso, muito provavelmente alguma pessoa já pesquisou algo relacionado ao seu tema, mesmo que ele se enquadre entre os de mais rara menção.

Dois aspectos elementares sobre realizar pesquisa

Isso nos leva a dois pontos:

  1. O que vou dizer aqui parece óbvio, mas muita gente esquece: para poder pesquisar sobre algo, antes do referencial teórico-metodológico, é necessário delimitar com muita clareza qual é seu objeto de estudo, quais são suas principais problematizações em relação a ele, e o quê você quer descobrir com sua pesquisa. Afinal, não há como pesquisar em busca de respostas caso uma pergunta não tenha sido feita.
  2. Busque leituras de pessoas que já trabalharam com o mesmo material que você e/ou com a mesma técnica de pesquisa que você pensa em estudar. De posse dessas leituras você poderá estabelecer seu próprio referencial teórico-metodológico. Nos próximos parágrafos isso vai ficar mais simples.

Há várias formas de manejar seu objeto de pesquisa conforme do quê você dispõe, bem como várias lentes pelas quais enxergar seu objeto com a ajuda dos estudiosos que já se debruçaram sobre ele.

Pesquisa de verdade

Eu, por exemplo, pesquisei sobre Vitória no século XIX usando, entre outros materiais, autos criminais do período. Em minha pesquisa trabalhei com cerca de 400 autos criminais, montando estatísticas, definindo porcentagens, fazendo agrupamentos em tabelas. Isso é um trabalho seriado com fontes, pois a detenho em centenas e, assim, pude delinear um perfil sobre meu objeto de estudo realizando a chamada análise quantitativa (devo também atribuir os louros a meus ex-colegas de pesquisa, que também se debruçaram sobre as mesmas fontes que eu e realizaram trabalhos que me ajudaram muito. Outra vantagem de interagir com pessoas que usam as mesmas fontes com você é a possibilidade de dialogar e refletir em conjunto, o que ajuda a descobrir novos caminhos para a pesquisa) . Entretanto, alguns colegas meus que pesquisam em temporalidades mais remotas dispõem de bem menos fontes, muitas vezes dispondo-se a fazer uma análise mais detida do pouco material disponível. Seria o caso do estudo pormenorizado de um único poema de 500 a.C, por exemplo. O pesquisador atento pode encontrar nele vestígios sobre o autor, suas dúvidas e convicções, a percepção sobre para qual público sua escrita era destinada, bem como uma infinidade de coisas que se pode desejar achar numa pesquisa. Temos aí a chamada análise qualitativa da fonte. Nesse sentido, como falei, o bom pesquisador deve estar de posse dos conhecimentos oferecidos por estudiosos cujos trabalhos tenham relação com sua pesquisa. A partir desse conhecimento, ele pode definir sua forma de manejar o objeto de estudo (metodologia), bem como os parâmetros pelos quais ele enxergará seu objeto, lendo outros autores que o respaldem (teoria). Temos aí o aporte teórico-metodológico.

Existe uma infinidade de estudiosos que produzem análise qualitativa e quantitativa em qualquer área do conhecimento. Em minha pesquisa, recorri aos mais conceituados e aos que tinham uma forma de pensar o objeto parecida com a minha. Se quiser ser pesquisador, você precisará fazer o mesmo.

Contribuições da era digital

Preciso aqui salientar que é possível realizar um trabalho de pesquisa sólido com gastos relativamente pequenos em livros. O Google e o Scielo oferecem incontáveis contribuições de estudos que podem ser úteis e, em alguns casos, até imprescindíveis para sua pesquisa. Nesse sentido, é necessário fazer um filtro do material a ser aproveitado, pois a internet possui muitas obras profícuas para a pesquisa, mas também muito trabalhos que não passam de uma perda de tempo para o bom pesquisador. Analisando o que existe e o que é dito sobre seu objeto de estudo você terá parâmetros para realizar essa seleção de trabalhos.

Esforços persistentes

Um terceiro ponto fundamental para o bom pesquisador é se esforçar para colocar em palavras o conteúdo adquirido. Em geral, entramos meio “crus” na faculdade em relação a essa atividade. Entretanto, fazendo a leitura extensa e o esforço de escrever, você aos poucos vai ganhando mais habilidade com esse ofício, e isso é uma questão de tempo e de muita persistência. Hoje leio coisas que escrevi a 5 anos atrás com convicção de estar escrevendo bem que se tornaram para mim verdadeiro motivo de piada. Graças ao meu empenho e à ajuda das leituras e opiniões de colegas, hoje consigo escrever bem melhor. Isso é uma questão realmente séria, pois já li trabalhos de pesquisa que estavam muito interessantes, mas nos quais precisei gastar muitos neurônios para entender o que estava escrito, simplesmente porque o autor tinha dificuldade em se expressar de forma clara e precisa, expunha as ideias de forma desorganizada, era deficiente em vocabulário, etc.

Essas lições te ajudaram? Passe a mensagem a frente

Bem, num texto conciso eu tentei resumir um pouco do que aprendi em meu caminho para os novatos nessa seara.

Se meu texto tiver ajudado uma única pessoa, já estarei feliz.