Intercâmbio na graduação (UnB – Uni-Gießen)

O que falar sobre esses seis meses que mal passaram e eu já sinto saudade “pacas”? Primeiramente, que eles foram os melhores da minha vida, sem a menor sombra de dúvidas. Morar numa cidade a 40 minutos de Frankfurt, Alemanha, que dispõe de uma localização bastante central à Europa, foi sem dúvidas uma das melhores coisas que eu pude fazer. Porque, e isso você pode extrair da conversa com 90% dos intercambistas de graduação, o que você menos fará nos seus seis meses (ou mais, dependendo pro programa) é estudar na faculdade – o que não podia ser o mais distante de falar que você não aprenderia nada. Eu, quando decidi por fazer intercâmbio na Jusutus-Liebig Universität Gießen, tinha muito claro na minha cabeça quais seriam as minhas prioridades: primeiro, conhecer o máximo que eu pudesse da Europa; segundo, aprender alemão; e terceiro, aprender as matérias da faculdade.

Meu intercâmbio para Gießen ocorreu por meio de um edital da Assessoria de Assuntos Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), que, apesar de não conceder bolsas, possui um acordo bilateral com a Uni-Gießen para intercâmbio de estudantes de graduação. O processo para alunos da UnB é bastante simples até, basta ficar atento à abertura do edital, a qual ocorre no começo de cada semestre, e então apresentar “títulos” discriminados no mesmo, quais sejam: participação em palestras, organização de eventos, publicação de artigos, trabalho voluntário… Cada um possui uma pontuação X, totalizando 30 pontos segundo os critérios do edital, que são somados ao Índice de Rendimento Acadêmico, que varia de 0 a 5. Ou seja, é melhor publicar um artigo, que te dá dois pontos, e ir mal em uma matéria, a ir bem em tudo e não ter nada extra. Acho que esse é a maior dica que eu posso dar, especialmente a quem ainda tem bastante tempo, mas isso é bastante específico à realidade da UnB, então a dica geral é: se fazer um intercâmbio é sua prioridade, conheça o seu edital ou processo seletivo, isso faz absolutamente toda a diferença.

Passagens compradas, carta em mãos (depois de um estresse envolvendo o não recebimento dos meus documentos – dica básica, mas ainda assim válida: mande e-mails caso você ache que as coisas estão demorando demais), cheguei no aeroporto de Frankfurt um mês e meio antes das aulas começarem para fazer um curso intensivo de alemão. E essa foi provavelmente uma das melhores coisas que eu fiz, porque, além de me integrar num grupo de pessoas dos mais variados países (de Brasil a Botsuana à França à Turquia ao Japão), me deu um treinamento no idioma que foi muito mais eficaz e proveitoso que meus quase dois anos de estudo da língua no Brasil. O salto é absurdo quando você aprende a língua in loco, realmente. O curso durou 4 semanas, e depois seria retomado de forma extensiva (e de graça aos alunos estrangeiros da Uni-Gießen) ao longo do semestre, ou seja, eu continuaria tendo estudos formais de alemão, o que foi uma das coisas que, creio, mais me serão úteis no futuro.

Entretanto, como tinha dito, minha prioridade primordial era viajar, e, bem, foi isso que eu fiz: foram 17 países em 6 meses, mais cidades do que eu tenho memória para citar de cabeça e mais horas dentro de ônibus desconfortáveis ao lado de pessoas com cheiro desagradável do que eu gostaria. Mas a experiência foi única, eu vi coisas incríveis que nunca sonhei que veria, fui a locais que eu só conhecia por livros e fotos e vi obras de arte que influenciaram gerações. Não me entenda errado: o meu intercâmbio foi feito _sim_para que eu aprendesse; a única diferença foi que as coisas que eu queria aprender sobre não necessariamente envolviam uma sala de aula. Eu aprendi (e relembrei) diversas coisas sobre história europeia, eu andei nos mesmos lugares onde aquelas pessoas que eu estudei no ensino médio andaram, e, honestamente, tudo fez mais sentido para mim. Tem certas coisas que você simplesmente não consegue extrair de livros e aulas, você tem que ir e olhar, ouvir e sentir. Um exemplo não muito agradável, eu creio que nunca dei a devida importância ao holocausto até ir ao museu do mesmo em Berlim e na casa da Anne Frank em Amsterdam. E é por causa dessas pequenas coisas que, ao conhecer mais sobre o mundo, eu pude conhecer mais sobre mim mesmo. Até porque, a maior parte das vezes eu viajei com um ou dois amigos, às vezes até sozinho, ou seja, eu tive bastante tempo para pensar, me deixar ser impactado pelo mundo ao meu redor e mudar com ele.

Finalmente, a minha última prioridade (o que não significa que ela não era uma prioridade!) foram os estudos da universidade. Eu fui sortudo o suficiente de as matérias que me interessavam terem sido ofertadas em inglês, idioma que domino, diferentemente do alemão. Entretanto, como uma forma de testar meus limites, eu resolvi pegar uma matéria (Direito Internacional Privado) em alemão, pois eu tinha interesse no tópico e a mesma não é ofertada pela UnB. Eu estudei muito, muito mesmo, e acabei conseguindo passar (a prova foi aberta e em alemão, foi desesperador) e aprendi umas novas palavras em alemão que eu presumo que nunca usarei, mas nunca se sabe! Ademais, todas as matérias eram de alguma forma relacionada a Direito Internacional, e a maioria eu nunca teria a oportunidade de fazer na minha faculdade de origem; nesse sentido, uma outra dica minha é: pegue matérias que você ache interessantes e que você não conseguiria pegar no Brasil. Não se importe muito se você atrasar um pouco sua graduação por causa disso, eu te garanto que você ganhará mais “perdendo” seis meses do que se corresse para conseguir seu diploma.

Para além das minhas prioridades, algo que me veio com o intercâmbio (que, diga-se de passagem, mudou a forma como eu me vejo e como eu vejo muitas coisas) foi a independência, por estar morando sozinho e por ter viajado na cara e na coragem algumas vezes; o autoconhecimento, por ter feito a opção de passar mais tempo comigo mesmo; e as amizades, tanto com gente que eu já conhecia e voltei conhecendo muito melhor, quanto com pessoas incríveis que eu espero algum dia rever. Em suma, se você puder fazer um intercâmbio, FAÇA. Serão os melhores meses da sua vida e o momento que você mais vai aprender na sua graduação, tanto dentro quanto, principalmente, fora das salas de aula.