A importância da pesquisa, ensino e extensão para a internacionalização de uma pesquisa
Quando fui convidado a escrever um pouco sobre minha trajetória acadêmica, vários problemas, de forma e conteúdo, pululavam na minha mente. Escrever, por ser parte de minha profissão, nunca foi algo fácil, simples ou minimamente prosaico para mim, de modo que nesse pequeno texto tentarei me ater a questões de experiência, formação e qualificação acadêmica – fugindo dos constantes excursos e digressões que são, muitas vezes, inerentes a mim.
Feito esses prolegômenos cabíveis, a minha vida acadêmica iniciou-se no primeiro semestre de 2009 quando ingressei no curso de licenciatura plena e bacharelado em História da Universidade Federal do Espírito Santo. Ainda como calouro já no primeiro semestre da graduação meu interesse foi despertado pelas disciplinas de História Antiga e Medieval, que eram ofertadas paralelamente, na época. Atraído por essa subárea do conhecimento histórico me aventurei em um caminho sem volta pelas esferas de ensino, pesquisa e extensão: tripé fundamental e o grande diferencial da universidade em contraponto as outras instituições de ensino superior no Brasil, afinal, o princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, já era apregoado na Carta Magna de 1988, em seu artigo 207. Permitam-me discutir minhas experiências nesses três pilares.
A extensão acadêmica foi a minha primeira experiência de diálogo e crítica. De fato, a extensão se apresenta como uma ação junto à comunidade, e por isso é tão fundamental. É responsável pela disponibilização do conhecimento adquirido com o ensino e a pesquisa desenvolvidos no âmbito universitário ao público externo. Logrei o primeiro contato com a pesquisa e extensão acadêmicas ao participar diretamente, e pela primeira vez, da organização de um evento internacional, a citar, o II Congresso Internacional Universidade Federal do Espírito Santo/Université de Paris-Est (XVII Simpósio de História): Cidade, cotidiano e poder (La ville, Le quotidien et le pouvoir) na condição de monitor. O know-how adquirido me levou a organizar um evento próprio (VIII Semana Acadêmica de História da Universidade Federal do Espírito Santo: História Política em debate) durante minha estada na coordenação do Centro Acadêmico Livre de História – Prof. Miguel Depes Tallon, um evento com claro intuito de interação entre os discentes e docentes da área de história nesta cidade, um processo interdisciplinar com viés educativo, cultural, científico e político.
Minha experiência com a pesquisa acadêmica foi certamente a mais relevante na minha jornada. Durante dois anos (2010-2012) participei do Programa Institucional de bolsas de Iniciação Científica (Pibic) com bolsa de pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pesquisando aspectos socioculturais e políticos na área de História do Mediterrâneo Antigo, principalmente no recorte romano. Sem dúvida, essas experiências de pesquisa foram essenciais para meu crescimento como pesquisador, principalmente por ter sido colocado em contato com grupos/linhas de pesquisa. O conjunto de atividades desenvolvidas – tanto a maciça participação em eventos, como parte do staff organizacional, espectador ou expondo trabalhos – estimularam meu amadurecimento profissional e o desejo de me tornar um pesquisador especializado na área de Antiguidade, o que me levou a propor um projeto e a prestar a seleção para o mestrado acadêmico do Programa de Pós-graduação em História, área de concentração em História Social das Relações Políticas da mesma universidade que havia me acolhido desde os tempos da graduação. Recentemente, entre maio e agosto de 2014, fui recebido para a execução de um estágio técnico-científico de nove semanas no Centre for Early Christian Studies (CECS) da Australian Catholic University (ACU) em Brisbane, Queensland, em Austrália, sob orientação do Senior Research Fellow Rev. Dr. Geoffrey D. Dunn e co-tutela da Profa. Dra. Pauline Allen, diretora do CECS. O meu contato com este centro possibilitou visibilidade para a produção científica capixaba no exterior, além disso, fui o primeiro estudante sul-americano do CECS desde sua fundação. Esse tipo de ação faz parte de um esforço de internacionalização da pesquisa brasileira, em especial, para nosso estado. Sem dúvida, o estágio no exterior foi uma das experiências mais importantes da minha vida acadêmica, pois além de me dar uma noção da pesquisa a nível internacional, possibilitou minha ida como representante do laboratório sediado na Ufes estreitando a cooperação com os centros de excelência no exterior e estabelecendo diálogo com a comunidade acadêmica internacional.
Finalmente, sobre o ensino – o objetivo primordial da Universidade, eu, enquanto historiador em constante formação e professor, ministrei integralmente, para os alunos de graduação, a disciplina optativa História e Literatura (HIS 04535), de 60h, no turno noturno, junto ao Departamento de História (Dephis), na categoria de professor voluntário, obtendo assim créditos necessários ao Estágio de Docência Superior do meu Programa de Pós-Graduação. Essa experiência foi fundamental para o meu crescimento e amadurecimento profissionais, já que me proporcionou a oportunidade de socializar conhecimentos acumulados durante toda a pós-graduação com os graduandos.
A prática da tríade ensino-pesquisa-extensão é muito mais que uma opção dentro das inúmeras possibilidades dentro do cotidiano universitário: ela é a verdadeira vocação da Universidade. É o perfeito encontro para retribuir a comunidade, não só o valor dos impostos empregados na formação de vários profissionais, mas também um processo de trabalho relativo à dimensão ensinar. Além disso, esses pilares tem o potencial de inspirar novas gerações na perspectiva de extrapolar o isolamento da universidade como uma ilha na sociedade pós-moderna, a saber, o isolamento vivenciado no ensino à distância e na falta de experiências estudantis coletivas. É necessário superar o dilema praxis e teoria.