O que é um cientista molecular?

Tales de Mileto, considerado o pai da filosofia, nasceu por meados de 625 a.c em Mileto, uma colônia grega nessa época. Por meio da razão e da observação, foi capaz de explicar e prever, pela primeira vez, um eclipse solar que ocorreu por volta de 585 a.c. Utilizando os métodos criados por ele para prever o eclipse e raciocínio lógico, foi capaz de prever uma alta produção de oliveiras e investiu em moendas de azeitona obtendo, desta forma, um grande lucro. Tales foi, talvez, o primeiro Empreendedor Molecular.

Em 2005, entrei em contato com o conceito de ‘Ciência como Empreendimento Humano’ quando conheci o professor Henrique Fleming. Para quem não conhece, o Prof. Fleming é um – lendário – docente do IF-USP, famoso pelas suas histórias e humor peculiar. Ele fez parte do desenvolvimento da Física no Brasil, sendo um dos seus grandes expoentes ainda vivo. Fleming também fundou o Curso de Ciências Moleculares (CCM) da USP. O CCM é a ‘materialização’ do conceito de ‘Ciência como Empreendimento Humano’ - a iniciativa surgiu da necessidade de raciocínio plural e de técnicas afins para o avanço científico.

O CCM oferece uma sólida formação nas ciências básicas, no chamado Ciclo Básico, e um currículo totalmente personalizado no Ciclo Avançado. Esse ciclo é acompanhado diretamente por um professor orientador.

Avançar pelo Ciclo Básico exige trabalho em equipe. Seus pilares em matemática, física, química, biologia e computação exigem diferentes tipos de inteligência e, com raras exceções, apenas colaborando é possível alcançar o nível exigido pelas disciplinas – bastante alto, diga-se de passagem. Já no ciclo avançado, é a hora de escolher um orientador, dentre todas as possibilidades da USP, e montar um projeto e as disciplinas que irão compor a última etapa do curso.

O que é um Empreendimento Humano, afinal? Trabalhar em equipe, fazer escolhas importantes, conquistar um mentor e ser capaz de elaborar um plano de atividades. Essas habilidades são essenciais a um empreendedor. Além dessas habilidade técnicas, a ciência exige inovação e criatividade para solucionar problemas extremamente complexos – sem contar a capacidade de identificar novos problemas!

Não me refiro aos problemas que a maioria de nós conhecemos, aqueles habitualmente encontrados no dia-a-dia. Refiro-me a problemas desde verificar a possibilidade da criação de uma máquina que funcionaria somente com o fluxo da água, sem engrenagens nem estrutura até a possibilidade de utilizar as propriedades quânticas da água confinada em nanotubos de carbono para sua desalinização.

Todo o espectro de possibilidades que existe entre essas duas propostas que exigem, fundamentalmente, uma equipe multidisciplinar capaz de transitar entre as múltiplas faces da ciência: um engenheiro que saiba mecânica quântica tanto quanto um físico, um biólogo que saiba tanta matemática quanto um matemático e um matemático que saiba físico-química. Quem se forma no CCM possui essa versatilidade e recebe título de Cientista Molecular.

Os Cientistas Moleculares podem ser encontrados executando as mais variadas atividades, algumas que aparentemente fogem de sua formação original, mas exigem habilidades desenvolvidas de maneira implícita durante sua formação. Alguns exemplos são:

• Mariana Pereira Pinho: pesquisa sobre Imunologia do Câncer;

• Francisco Quevedo Camargo: desenvolve modelos matemáticos para a Dinâmica de Populações de Bactérias;

• Karine Alves Bidart: pós-graduada em administração pela FGV, tornou-se famosa após ser uma das finalistas no reality show “O Aprendiz 3”;

• Willian Massami Kurita: trabalha com otimização de portfólios, modelagem em risco em carteiras trading, banking, crédito;

• Stephen Wolfram: Publicou seu primeiro artigo científico aos 15 anos e se formou doutor em física teórica aos 20 pela Caltech. Aos 21 anos integrou o corpo docente da Caltech. Nos anos 80, desenvolveu o programa Mathematica a partir dos algoritmos utlizados por eles para resolver equações que não conseguia resolver. Com seu nome comercial sugerido por Steve Jobs, o Mathematica é utilizado por empresas brasileiras, como Petrobrás, Banco Santander, Furnas,Transpetro, CENPES, Inpe e Embraer. O Mathemática é o principal produto da Wolfram Research INC, fundada por Wolfram em 1987.

Esses exemplos deixam claro que a formação científica oferecida por um curso altamente interdisciplinar capacita o indivíduo para exercer as mais exóticas atividades. Ainda não conheço um Cientista Molecular que fundou sua própria Startup, mas tenho certeza que é na ciência que reside a essência do empreendedorismo. Concluo essa reflexão com um apelo: precisamos de Empreendedores Moleculares!